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-Trabalho há mais de dez anos. As empresas em que trabalhei sempre foram muito distantes. Nunca levei menos de uma hora prá chegar ao meu trabalho e nesse novo emprego levo mais ou menos uma hora e meia. Pego dois ônibus e ando uns dez minutos antes de chegar.
-Trabalho há mais de dez anos. As empresas em que trabalhei sempre foram muito distantes. Nunca levei menos de uma hora prá chegar ao meu trabalho e nesse novo emprego levo mais ou menos uma hora e meia. Pego dois ônibus e ando uns dez minutos antes de chegar.
-Eu faço parte da linha 2-A e sou responsável em colocar três pinos num molde e passar adiante. O trabalho não cansa. É fácil.
-Tenho alguns amigos lá. Um deles é portador de necessidades especiais (PNE) e se chama Ramiro. Ele não fala muito, mas faz umas caretas engraçadas de vez em quando, tipo um tique. Ele carimba o molde que eu faço.
-Eu não sou PNE, sou normal. Até ganhei parabéns pelo trabalho que fiz outro dia. Coloquei o garrafão de água prá Jéssica. Foi um pouco difícil, mas sou forte. Minha mãe diz que é porque como verdura. Não gosto de verdura.
-A Jéssica é maravilhosa. Ela traz bombom todo dia prá mim. Eu não como os bombons que ela me traz. A mamãe disse uma vez que bombom estraga os meus dentes, mas acho que não estraga os dentes da Jéssica. Eles são tão brancos...
- Na hora do almoço eu como de tudo um pouco. Não como muito feijão, eles têm um gosto estranho.
-Sempre que está prá terminar o dia de trabalho, a Jéssica me avisa.
Eu faço o último molde, levanto e vou pegar minha bolsa, digo, mochila. Sempre me confundo se é bolsa ou mochila.
Eu bato o cartão sempre que aparece o um, o sete, dois pontos, o zero, e outro zero. Os dois pontos sempre estão lá.
-Na volta prá casa eu fico pensando em toda essa gente. Tem muitos prédios, muita gente. Muita gente que trabalha. Muita gente mesmo.
-Sempre passo por um senhor. Ele é mendigo. Não gosto dele.
-O ponto do 323 é verde. Sempre tem muita gente. Eu gosto delas. Mas sempre tem alguém que eu não conheço.
-Nesse ônibus eu nunca fui sentado. O ônibus sempre vai tão cheio.
-Algumas vezes eu perco a parada de descer porque não consigo chegar à porta a tempo.
- Quando desço sempre vejo se to com todas as minhas coisas. É importante.
- Quando não saio na parada errada eu pego o ônibus na parada azul com banco.
- Se eu chego rápido nessa parada eu consigo ver uma loira. Eu não sei o nome dela. Ela tem um bumbum grande. Ela pega ônibus junto comigo.
- É uma pena que nesse ônibus sobra lugar pra sentar. Eu queria ficar em pé colado com ela.
- Mas, sempre que dá, eu me sento do lado dela. Não sei se ela já percebeu que eu faço isso.
- Ela sai do ônibus duas paradas antes de mim. Um dia eu tomo coragem e vou atrás dela prá perguntar se ela quer namorar comigo.
- Eu chego em casa muito tarde e mamãe sempre ta vestida prá dormir quando eu chego.
- Mamãe diz que já to muito velho prá namorar. Ela diz que já to de cabelo branco. É verdade, acho que já to um pouquinho velho.
- Eu escovo meus dentes. Tomo meu banho. Janto e vou me deitar. A mamãe comprou uma boneca parecida com a loira. Faz um bocado de tempo que eu durmo com ela.
- Amanhã, no caminho de casa, eu vou falar com a loira.
-Boa noite Jojô. Espero que esteja aqui quando eu acordar.
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